Tudo é tempo
Quando o amor nos invade
Chegando a apertar o coração dentro do peito
Falar do inverno
Da visão de uma janela,
Do cantar de pássaros,
De sentir o cheiro de uma terra
Logo depois das primeiras chuvas
Da vida que se faz
Do azul do céu
Ou mesmo das tempestades
Da dor que em leito
Todo corpo invade
Do calor do inferno
Que a vida sem amor se torna
Da descoloração da aquarela
Que antes pintava tudo
Do silêncio doloroso que até fazem os pássaros silenciarem
Tudo anuncia a dor da agonia
Daquele que partira
Deixando morrer os sonhos
É uma língua em que pessoas saudosas se juntam
E mesmo que percorram caminhos diferentes
Nesse pesar se fazem presentes
E se antes o que invadia
Era o amor puro que um dia
Através do verde dos teus olhos eu via
No presente o que se sente é saudade
Daquele que está ausente
Glorifico as lembranças que trago de ti
São elas que me alimentam e por isso sobrevivi
Preservo a beleza do amor que não vivi
E sigo serena mesmo sabendo que pra você morri
Sentada numa poltrona, relendo as cartas que te escrevi
Nunca foram enviadas, as guardei aqui
Nelas desnudei a alma
Mas sabendo que para ti
Elas não diriam nada e por isso não as remeti
Cada vez que te escrevo
Não são palavras no papel largadas
São sussurros que digo em teus ouvidos
Mas sabendo eu que para minha voz estás ensurdecido
Está no meu quarto, num canto guardada
A minha mala apenas te esperando
Dentro dela o meu diário
Registros do meu vivido
Para que te fosse conhecido
As dores desse meu viver
Também está o meu livro
O que mais aprecio
E quem sabe o lendo
Possa também ficar sabendo
Dos meus gostos e desgostos
Junto a tudo isso
Tem também a minha caneta
Essa que deixou gravado
No papel todos os meus pecados
Todas as minhas redenções
Também deixou ela
Gravado no meu coração
Com tinta feita do meu sangue
O teu doce nome, nome que é minha razão
E enquanto tudo é sonho
A vida vai bordando com imagens de saudade
Com as dores da espera
Pela volta da primavera
E a mala vai se desgastando
O tempo vai acabando
E a verdade grita, chega doer os ouvidos
O amor dessa espera parece impossível
E mais ainda se tornou quando ele,
Como uma bailarina não sente mais a música
Sinto-me como se tivesse sido ferida
Pelo silêncio agredida
E por assim o ser
Não enviei à você
Uma única palavra
Podes não gostar de ler
As errado entender
E até dizer serem elas
Ao contrário de belas
Mas palavras duras, cruéis
E outra vez me ofender
Por que desgraçam a pureza do amor em que eu acreditava
Peço-te que me perdoes
O meu coração só se abriu
Pelo amor que por você sentiu
E estou prestes
De num tempo que não demora
Talvez até agora
De fechá-lo ou até arrancá-lo
Junto com esse sentimento
E todos os lamentos
Que já me fazem ser só frangalhos
E como você
O adeus não darei
Apenas seguirei
Sem para trás mais olhar
…
Esse é um outro sonho
E quem sabe um dia
Eu talvez consiga