Certezas
O tempo é algo de grande dualidade
Por vezes nos falta tempo
Noutro sobra o tempo
E nisso vai se fazendo a atual realidade
Os dias possuem sempre
O número de horas iguais
Mas mesmo assim
Cada dia possui um tempo
Diferente das horas exatas
Isso só depende
Da nossa ansiedade
Para mim, nesse tempo
Sobram horas no meu dia
Quase vejo o arrastar dessas horas
Presas em correntes frias
Amanhece e a noite não caminha
Chega às onze mas não passa de meio dia
E quando, finalmente, a noite se anuncia
As correntes soltam o dia
Para se prenderem na noite que erradia
Trazendo leve sono que em meio ao abandono
Vira uma crônica insônia
E de novo as horas parecem acorrentadas
Não chega meia noite
Nem o sol se anuncia
Os olhos sempre abertos
Noite de agonia
Pensamentos desconexos
Mas sem fantasia
Acordada dia e noite
Acordada e sem sonhos
Com os pés firmes no abandono
Pés que acordados
Caminham pela casa
Impacientes e buscando
Achar o que as horas ocupem
Para deixar de se arrastar
Entre cada segundo
Se eu assim pudesse
Eu transformaria
Essas horas e a insônia
Em momentos de alegria
Mas não me resta nada
Para que eu pudesse me apropriar
E o que ficou não é nada para se interessar
São tolices de menina
Coisas de uma tola
Então o que faço
É de tudo me afastar
Tento apagar as lembranças
Esquecer que dita frase
Que me falava de um amor
Esquecer todos os sonhos
Viver como se nada me fosse medonho
Mas assim como esse trépido tempo
Meus sentimentos
Não atendem ao meu clamor
E insistem em causar-me dor
Mas tenho uma única certeza
Mesmo porque foram tuas as palavras
Remetidas com tanta amargura
Que sonhar é me algo
De tamanha loucura
E assim segue a noite
Logo chegará o dia
Sigo acordada
Em tenebrosa melancolia