Sonho de menina

Logo ali, no alto do morro

Em meios aos escombros

Não em um castelo

Morava a menina

Que não era princesa

Muito ao contrário

Era uma menina abandonada

Deixada sem nada

Tinha longos cabelos

Presos em trança

Amarrados não por fita

Mas por um pedaço de chita

Entre as paredes já quase caídas

Morava ela e outras crianças

Não tinha nada

Mas ainda achava

Motivos para algumas risadas

Era ela só uma menina

Em sonho ela até podia

Ser o que queria

Uma domadora

Uma cantora

Uma bailarina

Uma princesa

Qualquer coisa ela podia

Isso mantinha a chama acesa

E nos sonhos que ela tinha

Podia essa menina

Morar até em um castelo

Protegido por dragões

Onde um príncipe destemido

Pelo amor ter conhecido

Por ela da bainha a espada tirava

Com os dragões lutava

E dali a resgatava

Mas nos primeiros raios de sol

Olhando ao seu redor

A menina do sonho se esquecia

E pra realidade retornava

Onde o que dominava

Era a vida de abandono

E como já lhe disseram

Para ela não haviam

Nem príncipe nem conto

Sua real sina

Era seguir sozinha

O castelo ela não tinha

Muito menos a companhia

E ao clarear de cada dia

Essa delicada menina

O sonho foi perdendo

Em tudo desacreditando

Pois em cada dia

Não aparecia

O príncipe dos sonhos

Nem um ogro vinha

Para dar motivo

Dela crer em sonhos

A menina foi crescendo

Noutro lugar foi vivendo

Não era mais escombro

Mas também não era castelo

Era somente uma casinha

Onde cabia a menina

Para depois de um longo dia

Tentar dormir e esquecer o abandono

Era uma casinha

Onde apenas a menina

Era o que a ocupava

Não havia outra pessoa

E a menina não descansava

Depois de muito tempo

Numa época de calma

A menina tinha certezas

E a vida te provocava

Dessa forma para ela

O amor se apresentou

Lhe trouxe algumas promessas

Que a menina acreditou

E nesse dia

Ela se perguntou

Será que era o príncipe?

Finalmente ele chegou?

Mas o que ela não sabia

Que eram palavras frias

Que logo se perderiam

E do sonho apenas sobrou

Nela um amor

Que não vai embora

E ela não se liberta

Ainda guarda o sonho

E no amor perdida

Desencantou outra vez com a vida

Dentro dela se guardou

Relembrando das palavras antigas

Que à ela anunciaram

Não haveria príncipe

Só o abandono

E nessa tortura

Dentro dela o amor fenece

E em lágrimas desce

Invadindo sua vida

Alagando os seus sonhos

E a menina segue

Sozinha no abandono

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 28/10/2023
Código do texto: T7919277
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