Instantes de antes
Num repente de fração de um tempo incalculável
Os olhos se encharcam
E uma amarga tristeza toma todo espaço detectável
Nesse meu coração que já abandonaram
É dor inquestionável
Dor que nesse tempo fez-se espectro
Dor que a cada dia me assombra
Por se tornar maior sem se quer possuir aspecto
Não há como a descrever
Nesse repente chega
De tudo toma conta
Basta um gatilho
Uma música
Uma lembrança
Ou a solidão que emite sua sombra
Alguém no meio da rua
Que remete a figura tua
Um casal de mãos dadas
Passeando numa praça
Até mesmo um animalzinho
Ou o cantar de um passarinho
Tudo de repente é razão
E nessa pequena fração
De qualquer tempo
Mudam-se os ventos
As lágrimas escorrem
Ácidas abrem valas
Pela face onde rolam
Feridas e mais feridas
Dores dessa vida
E na mente, nesses momentos
Uma pergunta entoa
Como se esquece
De uma pessoa
Que habita dentro
Sem ter tido consentimento?
Como se arranca
Um amor que grita
Para o infinito
O quanto ama essa pessoa?
São tentativas falhas
Todos os dias tomadas
Quando a mente se engana
O coração reacende a chama
E em meio as tempestades
Sem abrigo corre, sofre
Na mesma solidão
Que bem conhece esse coração
Outro dia amanhece
Outra tentativa vã
De novo o peito aperta
Outra vez as lágrimas descem
Por ter ouvido uma música
Que tocava lá no fundo
Quase nem a ouvia
Mas esse coração a percebia
E todos os sentidos
Nessa melodia distante
Aguçaram-se em nela se deter
E fizeram a lágrima verter
Rapidamente eu tento
A atenção demover
Dessa música que se irradia
Para assim a conter
Busco por outras coisas
Ligo rapidinho a Tv
Tentando achar alguma coisa
E de tudo me esquecer
Por vezes fico pensando
Que talvez não devesse deter
Assim choraria tudo
Para, quem sabe, te esquecer
Mas já chorei tanto
Um rio desse amargo pranto
Até já se formaria
Por isso desconheço o âmago
Dessa triste rotina
Mas se houver eterna continuidade
Bem sei se tornará minha sepultura
Onde eternizarei a mesma loucura