HORIZONTE
"Eu não tenho paredes só horizontes."
Mario Quintana (1906—1994)
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HORIZONTE
O dia ainda engatinhava-se na precocidade do sol,
ele já saía sob a lânguida tez do firmamento,
a procura de uma nova embriaguez.
Na algibeira
punha os sonhos fermentados para aquela manhã,
movimentava-se a passos lentos,
adubava nuvens,
se vestia de folhas,
gestava seus frutos
no útero das árvores.
À terra,
cambiava caminhos,
jornadas,
andarilhas promessas,
necessários esquecimentos...
Um pássaro vinha lhe dizer
o sentido do seu canto,
sob encanto,
respondia-lhe
com a natureza das suas asas,
nos voos diários dos seus pés.
Naquela atmosfera,
o dia emprestava seus
ponteiros,
nas pontadas
das chuvas
que lavavam,
levavam,
livravam
os homens da aridez,
e os louvavam
com o sumo
de alguma fertilidade.
Mais tarde
no esgarçamento
da claridade,
retornaria
no protagonismo da lua,
guiado por alguma estrela
cadente.
Trôpego,
dormiria
placidamente,
embebido dos horizontes
que conseguira amealhar.