Amor e o mar
Guia-me, sacro sentimento,
Até onde esse corpo frágil
Suporte o que hoje o mata
Sem emitir um único lamento
Leve-me pelas veredas
Dessa insuportável indelicadeza
Daquele que plantou o sonho
Para deixá-lo no abandono
Carregue-me, se preciso for
Arrancando do meu peito
Essa imensurável dor
E assim eu possa deitar-me em santo leito
Deixe-me por entre as plantinhas
Acomodar-me e curar as feridas
Causadas por um amor que velo sozinha
E que por vontade de um perdeu a vida
Cuide-me ao menos um pouquinho
Seja essa a primeira vez
Eu nunca tive carinho
Meu mundo sempre se desfez
Dê-me o que nunca tive ainda
Abra teus braços e diga
“ O amor que sinto não finda
Aconchegue-se nesse tempo e não siga”
Prenda-me ao menos na loucura
Pois viver sem amada ser
É viver com uma doença sem cura
Onde tudo que se quer é morrer
Mate-me se não podes abrandar
Todos esses sentimentos
Que essa alma vivem a torturar
Provocando dor e sofrimento
Perdoei-me se nesse inglorioso momento
Te lanço meus lamentos
Faz tanto tempo que procuro por um momento
Onde a vida me desse um acalento
Acalme-me antes que meu grito eu lance
Em uma tentativa infecunda
De que assim eu alcance
Aquele que nesse amor me afunda
Faz-me um barco navegante
Em águas de tranquilas ondas
Evitando que me lance
Em águas de desgraça e desonra
Livre-me do que possa ser imperdoável
De por um amor não cuidado
Ter a vida de forma nada amável
Eternizada na desatenção do amor nunca dado
Ajude-me a encontrar o tortuoso caminho
Que será a vereda daquele coração
Mesmo que esse possa ter espinhos
Que caminharei sabendo ser essa a direção
Faça-me a nobre gentileza
De ser esse o radioso tempo
Em que meu coração terá a leveza
Como os inebriantes ventos
Creia-me nesse tempo presente
Não desejo quase nada na vida
Minha espera se faz permanente
Naquele que amo dar-me a chance pretendida
Sinta-me como nada o pudera
Impregne-se de tudo que sinto
Sentirás em definitivo que não minto
Amo e se amar não posso, finda a espera
Leve-me por fecundos caminhos
Onde passarinhos fazem ninhos
Tudo resplandeça em beleza
E toda dor se dissipe com delicadeza
Amor que no amor não encontra
O que o alimenta, acha apenas
O amargo veneno que o desorienta
Que mata a alma e o abre fendas
Lançando, a quem nas palavras verseja,
Em um rio sangrento, rio de tormentas
Não encontrará águas tranquilas para navegar
Serão sempre bravias e o amor tentará afundar
Eterna luta do amor e o mar