Filho
E quado os meus olhos fitares
e eles opacos estiverem.
Tenha paciência.
Procure lá no fundo deles
um resquício de brilho.
E quando as palavras
por mim proferidas
te desagradarem.
Tenha paciência.
Encontre neste velho
razões para tua existência.
E quando os meus passos
os teus não acompanharem.
Tenha paciência.
Caminhe comigo e veja
o quanto já percorreu.
E quando minha face,
marcada pelo tempo,
teu carrinho buscar.
Tenha paciência.
Lembra-te de quando
buscavas o meu.
E quando minhas trêmulas mãos
não conseguirem me alimentar.
Tenha paciência.
Por mim recomece,
leve-me a descansar.
E quado minha memória,
das minhas memórias se esquecer.
Tenha paciência.
Conte-me a mesma estória
mil vezes.
Porém, quando meu coração, fraquinho,
não aguentar mais bater.
Tenha paciência.
Cerre-me as pálpebras e despeça-se.
Não sofra!