Lembranças de chuva
É noite e lá fora a chuva cai
É uma chuva fininha
Que por assim o ser
Deve estar bem fria
Olhando essa chuva
Lembranças retornaram
De um tempo passado
Quando ainda era criança
E pouca coisa já servia
Para fazer brotar um sorriso
Apagando por instantes
As tristezas existentes
Bastava um banho de chuva
Ter as roupas encharcadas
Correr e pular nas poças
Das águas de chuva empoçadas
Nesse tempo não haviam
Pensamentos sobre riscos
Tudo era só alegria
Trazida pelas águas
Também eu já sabia
Que depois do banho de chuva
As coisas piorariam
A bronca era certa
E tudo mais que depois vinha
Era bom o banho de chuva
Mas um preço trazia
Que eu pagava contente
Outra lembrança guardada
Pela chuva desenhada
Eram as viagens de barquinho
De papel construídos
Onde eu viajava
Para um outro lugar
Por querer longe daquele estar
Quando a chuva parava
Do barquinho quase nada sobrava
Junto afundavam os sonhos
Da viagem desejada
Era pura inocência
Coisa de criança
Era uma infância
Cheia de abandonos
E com a chuva
Nasciam sonhos
Hoje vendo a chuva
Ainda nasce o desejo
De tomar banho de chuva
De largar-me em suas águas
E quem sabe
Lavar a alma
Não tenho mais como
Na infância tinha
Fazer um barquinho
Larga-lo na correnteza
Dos pequenos rios
Rios feitos de chuva
Hoje a imaginação
Não se liberta da razão
E essa diz bem alto
Barquinho de papel
Não realiza viagem
Não leva ninguém
Apenas na água
Se desmancha e se esvai
Na correnteza da chuva
Olhando a chuva que cai
Tantas lembranças
Tantos sonhos
Que junto com a chuva da infância
Já não existem
São lembranças
Guardadas na memória
São pequenas porções
De uma felicidade guardada
Felicidade simples
Construídas de inocência
Cheias de inconsequência
Por serem de uma criança
Chuva traz lembranças…