APENAS ESCRAVO

APENAS ESCRAVO

 

Nasci para ser apenas um escravo,

Desde o dia em que fui trabalhar,

Sou mau pago para o gozo dos magos,

Que teimam essas bolsas controlar.

 

Eles estão pelo hemisfério norte,

Ditando regras e leis pra roubar,

Estão nas orgias de Baco e morte,

Mas quem morre cedo em seu lugar?

 

Somos só gente preta ou cabocla,

E os que professam outra religião,

Chamados de pagãos por gente louca,

Que acha ser Deus e dono da razão.

 

Mas ninguém se olha no espelho,

Senão irão ver uma bruxa feia,

Se a bela verdade não tem selo,

Pois o último Hermes esperneia.

 

Agora, estamos no esgoto sem água,

E não há liberdade, mas há muros,

Somos o lamento, pois tudo é mágoa,

E a morte é à tarde ou no escuro.

 

Não ganho pra ter direito ao pão,

E há muito tempo não tomo do mel,

Só tenho a certeza de pedir perdão,

Do que nunca fiz, expulso do céu.

 

E os deuses do Valhala e de Ur,

Me querem como um maquinário,

Ciborgue que morreu no Carandiru,

Ou em vilarejos longe do erário.