Tudo foi dito
O que queres que eu te digas?
O que era para ser o mais importante
A ti foi dito
E fizeste deste o que não importava
Então nada mais tenho a te dizer
Enquanto diz-me tudo
No silêncio em que te guardas
Esperei-te por todo esse tempo
Descuidei-me dos meus sentimentos
Aguardando-te dizer-me
Que o que outrora disseste
Não era a verdade pura
Encontrava-se essa
Pela mágoa infectada
E por isso cada palavra foi dura
Mas nem um oi me deste
Como posso permanecer
Desfazendo-me do meu próprio ser
Não que isso signifique
Que a dor passou
Mas permanecer esperando por você
Só a mim fere
Aceitar que não há mais como
Mergulhar em meu abandono
Viver consciente do que é minha vida
Do que tenho e do que nunca terei
É ao menos evitar
Outras frustrações
E é dessa maneira
Fincada com os pés no chão
Que buscarei seguir a vida
Fechando o coração
Quero secar meu pranto
Sendo tocada pelos ventos
Onde derramarei meus lamentos
Sem qualquer intenção
Voltarei a deixar-me
Guardada entre as águas
Para que assim as lágrimas
Nunca possam ser notadas
Reaprenderei a vestir-me
Com as vestes para vida
Não deixarei exposta
Minha alma ferida
Terei sempre exposto
Em meu rosto um sorriso
Assim à cada um que cruzar pelo caminho
Deixarei a imagem
De alguém que tem
Uma linda vida
Sem que nada
Faça nascer feridas
Assim seguirei
Entre tantos perdida
E passarei totalmente despercebida
Apenas quando em minhas costas
Se trancar a porta
Despir-me irei
Serei eu
Nada além
Deixarei os pesos
Dos ombros caírem
Arrancarei as bandagens
Que as feridas escondem
Deitarei-me encolhida
Tal qual um feto fica
E até que outro dia
O céu anuncie
Assim ficarei
Não te incomodarei
Nem a mais ninguém