Navio ao mar
O que sei eu de mim
Se o que antes eu achava que sabia
Se desfez ao primeiro vento
E tudo o que eu dizia
Que jamais eu faria
Foram as primeiras coisas
Que me peguei fazendo
E ainda dizendo
Que eram essas coisas
O que tudo me traria
Dos meus sonhos
Dos tantos planos
E depois que o vento passou
Percebi ter sido
Tudo um grande engano
Portanto, nada sei de mim
Sigo apenas buscando
Uma razão para sorrir
Em meio à tantos enganos
Me perdi de mim
Por vezes me sinto um barco
No oceano deixado
Navegando sem rumo
Sem um porto
Sem ninguém na proa
Um barco abandonado
Até mal assombrado
Onde rangem correntes
Vultos andam soltos
Navega nas tormentas
Quase naufraga
E quando pensa estar
Em águas calmas
São rasas essas águas
E há pedras a lhe rasgar
Então precisa ele
Para as águas profundas retornar
E no meio do oceano
Volta a se tornar
Um navio solitário
Sem ninguém embarcado estar
Assim segue ele
Nos rumos que o oceano lhe dá
Assim sigo eu
Nos rumos que a vida me dá
Nenhum de nós tem escolha
Nos resta apenas navegar
Eu não sei de mim
Ele não sabe do mar
E aquele que diz
Saber tudo de mim
Sabe menos do que eu sei
Erra ao me julgar
Desconhece minhas feridas
Não sabe o que me machuca
Menos o que me faz alegrar
A mim nunca deu nada
Até por não saber o que dar
Não conhece minha alma
Mas acha que pode me julgar
Se nem eu sei de mim
Não é você que saberá
Para tanto precisaria
Sentar-se ao meu lado
E provar
Do tempero da minha vida
E ainda assim
Não teria como
Dizer saber de mim
A ponto de julgar
Tudo que eu posso afirmar
É sobre o que sinto
Todo resto é navio ao mar