Mar…mar de terapia
Em um céu de azul profundo
Mergulhei o meu olhar
Enquanto ouvia as ondas
Derramarem-se em louca fúria
Nas pedras do lugar
Como que quisessem a elas
De alguma forma castigar
Esse lamurioso som
Desvio o meu olhar
Levando-o na direção
Das pedras onde esse mar
Batia contra elas
Sem que elas pudessem reclamar
Teve então minha atenção
Cativou o meu pensar
Tão lindas as pedras
Tão lindo o mar
Por que derramar-se nelas
Com tanta fúria
Por que as machucar
Mas a verdade
Simples de revelar
O mar nem sabe das pedras
Nem elas sabem do mar
O encontro deles
É uma ação da natureza
Nenhum nem outro
Querem atrapalhar
Mas esse encontro
Vai aos poucos transformando
Um ao outro modificando
Assim, os observando
Vi algo de humano
Nesse encontro singular
Pois ao longo de nossas vidas
Houveram e há muitos encontros
Em cada um deles
Nos modificamos
Transformamos e nos transformamos
Também nossos encontros
E desencontros
São singulares
E depois de observar
Esse encontro dos dois
Voltei a olhar
O azul do céu
Que já não era como antes
Nos instantes que o deixei de observar
Também ele se modificou
Novos tons acrescentou
Caminhei pela areia
Com a branca espuma a me tocar
Meus pés caminhavam
Na areia afundavam
Enquanto meus pensamentos
Eram gaivotas a voar
Apenas meu corpo
Estava naquele lugar
Como era bom
Poder voar
Fechei os olhos
Me deixei ser levada
Senti o vento
Minha pele tocar
Voei bem alto
Com meus pés na areia plantados
Mas voei bem alto
Para um lugar
Onde apenas eu
Poderia estar
E por uns segundos
Senti uma paz
Que há tantos anos
Não sentia mais
De repente uma onda
Derramou-se na areia
Batendo nos pés
Que logo sentiu
A areia se esvaindo
Debaixo dos meus pés
Abri os olhos
Voar não podia mais
Olhando a minha volta
Areia, pedra e mar
Fiz o meu encontro
Comigo mesma
Porque de outra maneira
Seria como a areia
Que sai debaixo dos pés
E para o mar vai
Caminhando…sentindo a brisa
Cheguei em outro lugar
Não tinha mais areia
Nem espuma do mar
Eram frias paredes
Onde o meu corpo se abriga
Nele não há encontros
Não existem bom dias
Nem boas noites
Não existem pessoas
Sou apenas eu
Que nesse lugar
Me encontro
Me perco
Sem ter o mar
Mas tenho o oceano
Sempre presente no meu olhar
Por vezes, não tenho pressa
De a esse lugar regressar
Há muitos vazios
Silêncios perpétuos
Nem calor há
Nem parece humano
É um lugar
Nada mais para falar
Gosto do mar
Nem sei explicar
O mar me acalma
Me esvazia
Me faz não pensar
Gosto de o olhar
Bem no horizonte
Onde parece que está a entornar
Toda tua água
Em alguma outra parte
Que não alcança o olhar
Faz tanto tempo
Que não me encontro com o mar
Faz tanto tempo que não me posso esvaziar
Já nem me lembro
Preciso me encontrar
Com meu oceano
Fora do meu olhar