Noites…dias…

Lá fora os primeiros movimentos do novo dia

Passarinhos cantam, ainda pousados

Nos galhos das árvores em que se abrigaram

A chuva fina cai…

Algumas pessoas nas ruas caminham

Não estão apresadas

Vão pelas ruas vagarosas

Uma ou outra conversam

A noite se despediu com a chegada da aurora

Mesmo com chuva, a luz foi adentrando

Pela noite vaguei perdida

A vi chegar

A vi partir

Meus olhos não se fecharam

Caminhos muito incertos

Os pensamentos sem um rumo

Sem um porto seguro

Vagueia sem direção

Coração na mão

Lá fora a vida prossegue

Sem considerar o que eu sinto aqui

Sou apenas um grão de areia

Uma mera poeira

Nesse infinito universo

Não há vida perto de mim

Não há barulhos no meu finito espaço

O que o faz apenas é composto

Por inanimados, seres sem vida

A respiração é profunda

Uma busca interna

E em cada batida do coração

Mais profunda é a respiração

Pensamentos se misturam

Entre o real e o imaginário

Por vezes quero crer

Não no que vivi

Mas no que apenas foi um sonho

Pois foi neles que fui feliz

Neles o amor vivi

Mas, de repente, tudo fica desconexo

As lágrimas causam um curto

E para realidade volto

Olhando novamente a minha volta

Entre imagens embaçadas

Confirmo minha solidão

E a dor aumenta no coração

Ergo o corpo já cansado

Febril, trôpega, caminho

Talvez as águas me animem

E de olhos fechados deixo que molhem

Esse meu corpo cambaleante

Quem sabe essas águas

Carreguem junto com elas

Todo essa dor que me dilacera

Mas ainda sob as águas

As águas dos meu particular oceano

Juntam-se as águas do banho

Talvez seja a toalha o instrumento esperado

E minha redenção esteja no toque do algodão

Enquanto seca o meu corpo

Talvez seque a razão

De haver dentro de mim esse oceano

Que se derrame em constantes lágrimas

E me tira o sono

Outra ilusão criada

Outro passageiro sonho

Não é uma simples toalha

Que mudará uma vida de abandono

Outro dia

A vida lá fora se levanta

Vagarosa

O céu se derrama

Pássaros úmidos cantam

Poucas pessoas na rua

Um corpo febril

Fragilizado por tantas dores

Um coração ferido

Bate tristemente

A vida permanece indiferente

Segue em frente

A dor persiste

A lágrima insiste

Mas já é hora

Não posso inerte ficar

Preciso ir para o mundo

Vestir-me com vestes

Que escondem o corpo, a alma

E que o coração disfarça

Para que as lágrimas

Nesse tempo desçam

Por dentro desse corpo e a febre

Se afogue nelas

Não há mais tempo

A luz do novo dia toma

Todo meu quarto de sombras

Me visto, saio

A porta bato

Barulho das chaves

Tranco

Viro às costas

Agora não mais posso

Permitir que vejam

Tudo que por dentro guardo

Um esboço de sorriso deixo

A mostra no meu rosto

Na vida uma atriz

Interpretando ser feliz

A noite vai retomando

Seu lugar e na luz colocando

As sombras que traz

É o prenúncio

O dia termina

Recolho minhas coisas

Desligo

Fecho

Com o mesmo sorriso me despeço

Ando

Sem qualquer pressa

O coração alerta

“Não há ninguém a sua espera”

O sorriso se desfaz

O oceano se derrama

Em forma de lágrimas

E outra noite já declara

Insônia

Lágrimas

Coração dilacerado

O corpo por dor e febre tomado

Abandono

Um mundo frio

Completamente vazio

Tomado por sonhos

Invadido por fatos

Tudo desconexo

A noite finda

Outro dia…

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 15/10/2023
Código do texto: T7909012
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