LEMBRANÇAS DE UM ELEFANTE
LEMBRANÇAS DE UM ELEFANTE
Eu queria me lembrar do deserto,
Mas só lembrei de um elefante,
Que, tão velho, não era esperto,
E caminhava sob sol incessante.
A certeza que havia era a morte,
Pois não tinha mais seus marfins,
Com a pele enrugada e a má sorte,
Esperando os leões lhe dar fim.
O seu clã elegeu um novo chefe,
E as fêmeas não mais cortejava,
E como não cura, mas só adoece,
Aquele deserto é sua cova rasa.
A solidão era sua única irmã,
E o silêncio sibilava no vento,
Com palavras de um monge ou imã,
A dizer que chegou o seu tempo.
E ele deu sua carcaça aos abutres,
Pois dormiu bem longe das hienas,
E bem antes declamou aos ilustres,
Que os mamutes não eram as renas.
Quis dizer que todos têm ofícios,
Mas nem sempre foram entendidos,
A não ser pelos seus benefícios,
Pois, senão, serão como bandidos.
Tudo passa de homem a elefante,
Como a vida é um mero intervalo,
Pois o Cosmo despede um infante,
Quem dirás o valete e seu cavalo.