PORQUE SOMOS

PORQUE SOMOS

 

Estou entre gatos e cães,

É assim cada dia que vivo,

Todos eles pedindo orações,

Pois é tempo de suor e castigo.

 

O ser humano os tirou do mato,

Para serem as suas distrações,

Diferente de porcos e patos,

Ou as galinhas para refeições.

 

Dizem que o galo é pra acordar,

Mas galináceos cantam bem cedo,

Então, vão ser petisco no bar,

Ou servidos no ebó (ai que medo!).

 

Há quem não passe sob a escada,

Com medo do azar e da mandinga,

Mas se ouvem vozes e trovoadas,

Vão pedir uma benção da dinda.

 

Num terreiro também há louros,

Como tem jabuti, bode e pombos,

Cada um pra comer ou pro couro,

Mas se toca atabaque no congo.

 

Congo, Angola, hauçá e iorubá,

São línguas e jeitos de um mundo,

Quando formam regras para orar,

E nos dá condições de ubuntu.

 

Se eu sou é porque nós somos,

Pois ser humano é ser social,

Que, sós, são fracos de tônus,

E tudo junto é mais visceral.

 

Seres humanos são como o motor,

Que não é feito com única peça,

Mas um conjunto furtivo de amor,

Pois assim, tudo acaba em festa.

 

Todo aquele que se isola, perece,

Mas de mãos dadas a vida perdura,

Num atrito que aquece e floresce,

Pois a terra nos cobra a fartura.

 

Um planeta com vida é presente,

E os satélites à noite são guias,

Como estrelas surgem de repente,

Para um lobo do mar ver baías.

 

E assim, poderá ter um porto,

E o direito a uma companhia,

Vai subir na colina dos lobos,

Para saldar nossa lua vadia.