UM NEO-NEANDERTHAL

UM NEO-NEANDERTHAL

 

Tenham cuidado com os avanços,

Pois a sociedade não é angelical,

Como não há virtude, mas ranços,

Se somos só um neo-neanderthal.

 

Não adianta ter algo e não usar,

Ter dinheiro e ouro para morrer,

Com neurônios somente a pulsar,

Mas sem usá-los irão apodrecer.

 

Se queremos usar além da média,

Nosso cérebro deve ter serventia,

Mas se essa média for uma rédea,

É porque somos sonhos sem valia.

 

O planeta sem nós logo agradece,

Mas nós sem ele, não existimos,

Mas, porque destruímos a creche,

Que se faz esperança aos meninos?

 

Disseram que pobre só serve no voto,

Mas a economia depende dos pobres,

Pois eles não guardam nem para loto,

E seus salários nutrem os nobres.

 

Rico não gera emprego, nem renda,

Pois guarda o que ganha ou agiota,

Suga o sangue de quem nem merenda,

Mas vive a mentira de cada nota.

 

Um dia, quem sabe, seremos felizes,

Desnudos de tudo que gere ganância,

E possamos ser como todas perdizes,

Olhando o gato como circunstância.

 

Se há mais cupins do que tamanduás,

Me diz que o mundo é só equilíbrio,

Mas quando queremos ser marajás,

Não fica um peixe, ave ou anfíbio.

 

Como seria ter casa em Mercúrio,

Ou um castelo no frio de Marte,

Sem água e respirando ar impuro,

Ou sem mel e sujeito ao infarte.

 

Eu prefiro uma casinha no campo,

Que ter hotel ou viver na cidade,

Pois o mato tem cheiro e encanto,

E sob as estrelas não há vaidade.

 

Ali, despojado de vestes e jóias,

Eu percebo o quão sou pequeno,

Mas ser grão de poeira é vitória,

Pois não quero ser soja e veneno.