Hiato
Não me lembro de quanto tempo faz
Desde a última vez que me vi a sonhar
Também não me lembro de me olhar
E ter sentido algo que me satisfaz
Tudo que me lembro
E queria esquecer
É do teu nome
E tudo que ainda sinto por você
Vives no que sinto
No que não digo
No nunca adormecer
Vives no meu tentar te esquecer
Te vejo em meus sentidos mais desertos
Nas miragens duma cena além do lar
Rolando a pedra dum sarcófago aberto
Que não exala cheiro, só mal-estar
Te vejo no meu passado
Na pedra que lacra o lugar
Onde decompõe meus sonhos
E meu corpo paralisado está
Te vejo na porta da alcôva -que outrora
Fôra a Fonte da Paixão (lubricos prêmios)
Mas o Anjo do Juízo julgou: Fora!
E queimou os sonhos em um incêndio
E no fim desse penar eu meço o imenso
Hiato que há entre a lágrima e o lenço
E as esquivas desde o encontro à despedida
Eterno amor já morto onde jaz meu corpo
Vive um vazio em mim ao lado do mundo inteiro
E o Sol da ira sobre a Esfinge de gelo
Que esvai-se em águas frias
Sem qualquer alegria
Como no céu a lua
Faz o amor viver
Em corações serenos
Vivo por amar você
Mas como o Sol e a Lua
Que juntos nunca irão viver
Assim também eu sinto
Que jamais estarei com você