Se eu morrer amanhã

Não quero de amor falar

Quero registrar

As possibilidades

De a vida me deixar

Por isso penso agora

E se eu morrer amanhã

O que eu gostaria

De ao olhar de fora

Visse acontecer

Portanto direi agora

Para que assim se possa

Um pouco por mim fazer

Se amanhã eu morrer

Primeiro

Abram as janelas

Permitam ventilar

Deixem o sol entrar

E o perfume das flores

Possa tomar o lugar

Não façam silêncio

No silêncio passei muito tempo

Liguem o rádio

Em um volume bem alto

Ponham música para tocar

Não me apareçam

Vestidos de preto

Vistam branco

Azul do céu

Cor-de-rosa

Qualquer cor

Que seja bonita

Mas preto não vistam

Não chorem

Riam bastante

Sejam leveza

Nada de tristeza

Sejam como a primavera

Ou um jardim colorido

Com vôos de borboleta

E beijo de beija-flores

Segundo

E para a minha [tal] despedida

Façam festa

Levem flores do jardim

Areia, pedras e conchas

Tragam a praia até mim

Não gastem dinheiro

Com frias coroas

Façam doação

Aos lugares onde estão

Crianças e velhos

Que como eu conheceram

De perto o abandono

Façam-os felizes

Os visitem com constância

Só quem vive a solidão

Sabe o valor de um coração

Que ao outro se doa

Sem esperar coroa

Faça algo útil

Cuide desses infelizes

Que assim eu vivo

Através desses sorrisos

Não tentem me dar nada

Para onde vou já não preciso

Mortos só necessitam

De estar em paz consigo

Doem minhas coisas

Nada guardem

Nada me tem nelas

Nunca foram elas

O que eu necessitava

Tudo que se possa aproveitar

Entreguem a quem precisa

Sem nada pensar

Não se apeguem

Doem

Deixe-as alegrar

Aqueles que delas necessitarem

Não chorem

Nem guardem luto

Nada irá adiantar

O tempo que estive aí

Ninguém pode comigo ficar

Portanto não é necessário

Em dor fingir estar

Não digam sentir saudade

Só guardem na memória

Para outros ajudar

O quanto se destrói a alma

Quando se decide alguém abandonar

Contem a minha história

Não reinventem nada

Para minimizar

Contem só a verdade

De tudo que me viram passar

Terceiro

Se conseguirem

Achem a canção mais triste

E a cantem enquanto as cinzas

Alguém lança no mar

Essa é minha partida

Essas são palavras de despedida

Mas pela primeira vez

Posso dizer estar

Me sentindo feliz

Por de tudo me libertar

Paguei as minhas contas

Já posso regressar

Não estarei mais presa

Voltarei para o meu lugar

Sem mais preocupação

Em paz

E assim que lá chegar

Realizarei uma celebração

Com leveza no coração

Sem mais lágrimas no olhar

E ao amor que nessa vida

Meu coração deixei ficar

Nessa despedida

Quero te desejar

Apenas o melhor da vida

E toda felicidade que há

Por isso…

Se amanhã eu morrer

Como sempre deve ser

Sem data nem hora

Abram as janelas

Deixem o sol entrar

Escolham uma bela música

Liguem o rádio bem alto

Ponham a música para tocar

Levantem um brinde

Por minha missão finalizar

A cumpri e bem cumprida

Podem então brindar

E saibam que para mim

A vida acabou de começar

Mas agora sem dor

Solidão ou lágrimas no olhar

Estarei de volta

Finalmente em um lar

Portanto se alegrem

Pois feliz eu estarei

Nada mais irá me magoar

Pois por isso

Brindem

E lancem-me no mar

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 03/10/2023
Reeditado em 03/10/2023
Código do texto: T7900516
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.