TEMPO INDIGENTE

TEMPO INDIGENTE

 

A entrada independe da gente,

Mas a hora de sair está perto,

Pois nosso tempo é indigente,

Comparado ao caos no universo.

 

Quando olho o tempo no Cosmos,

Gostaria que fosse democrático,

Mas ele é cruel e de impostos,

Pois se faz em viés autocrático.

 

Minha escolha é tão limitada,

Que nem posso andar pro Japão,

Ou colher minha tâmara plantada,

Se não vou ter noção ou visão.

 

Por isso, a máxima do que faço,

Deve ter uma lógica do futuro,

Se eu posso deixar o meu traço,

Bem além do meu fruto maduro.

 

Pois tecer meu novelo poético,

E dizer ao futuro que existo,

E saber ser além de esquelético,

Vai dizer pelo que eu resisto.

 

Ser a resistência ante a barbárie,

Nos cobra agir com amor e ética,

Mesmo diante da dor de uma cárie,

Que me quer sem dentes e estética.

 

Se deixamos bom exemplo e carinho,

Respeitando o que o mundo criou,

Poderemos ir em paz desse ninho,

Porque fomos mais que um griô.