Nada muda
Não importa onde estou
O meu leito é eternamente frio
As noites me açoitam
Dormir é impossível
São outras paisagens
Que vejo pela janela
Mas a solidão que invade
Não vê beleza nelas
O coração só bate
Por ser organicamente assim feito
Mas bate sem vontade de bater
A dor que sente
Traz o desejo inocente
De nada mais querer viver
O olhar permanece distante
Desligado do lugar
As lágrimas insistentes
O impedem de enxergar
A boca sempre selada
Sem ter com quem falar
Palavras e mais palavras
Guardadas sem as pronunciar
Tudo dentro do peito
Vai se acumulando
Quase já não existe
Espaço ou um canto
Para tanta dor guardar
Me tornei reclusa
Do mundo me afastei
Nada nele achei
Só dor e abandono
Desde o primeiro instante
Que ao mundo cheguei
Por vezes eu me sinto
Um espectro perdido
Que não compreendeu
Ou apenas não aceitou
Que seu tempo acabou
Pois me sinto invisível
O que sinto imperceptível
Tanto faz se sinto ou não sinto
Minhas mãos seguem frias
Nenhuma outra nem as tocou
Meu caminho é sempre solitário
Ninguém caminha ao meu lado
Entre noites em claro
Vou seguindo meu destino
Me despi de velhos sonhos
Desfiz os planos
E apenas vou caminhando
Por lugares que pela janela
Minhas lágrimas derramo
Ainda presa em um passado
Que jamais estará ao meu lado
Quisera eu que essas lágrimas
Fossem como as águas
De um bravio rio
Que pela cheia provocado
Se derrama por todo lado
Em fúria arrancando
O que teu caminho prende
E assim fazendo
Suas águas vão carregando
E outra história fazendo
Se minhas lágrimas assim também fizessem
Arrancassem tudo que sinto
Nova vida me trouxesse
Ah! Creia-me, não minto
Choraria sorrindo