Cadeira de Balanço

 

Traços mostram as linhas geométricas,

Traças comem os guardados antigos,

Tragos escondem a dor das lembranças,

Batidas relembram a tristreza do peito.

Destroços mutilam a verde esperança.

 

Trapos de seda estão jogados pelo chão,

Gavetas vazias, bilhetes, cds de montão ,

Lençois esquecidos nos guardas-roupas,

Mudanças de itinerários e uma voz rouca.

 

Movimento na rua, uma buzina á-toa,

Um perfume no corredor, hora tão boa.

Um passo no escuro, brecha da porta,

Toque discreto, campanhia outrora

E um calendário tornando-se absoleto.

 

Hoje na velha face da mentira lembranças 

Dispersas nas gavetas que ora ressuscitam

E no romper dos anos as traças caducam

Enquanto a cadeira de balanço range as alças.