Revolta do mar
De um tempo já distante
Na memória trago comigo
A areia fofa que aos pés carícias permitia
O aroma salgado das águas do mar lançadas
O vento cativante que os cabelos fazia esvoaçantes
Era o meu refúgio
Meu lugar seguro
Lágrimas e águas
Ambas se misturavam
E a vida renovava
Sinto saudade
Saudade daquelas águas
Saudade daquele vento
Saudade do pé na areia
Hoje vivo distante
Não ouço o mar cantando
Os pés areia não sentem
As lágrimas só encontram solidão
Sinto falta dos dias de vento
Onde o mar era provocado
Maliciosamente
E logo reagia
O silêncio não permitia
Erguendo-se em ondas
Que em pedras batiam
Magestoso as elevava
Em altura inesperada
Que perfeitas esperavam
Quem as abraçassem no imaginário
Lançando-se dentro delas
Perfeitas esperavam
Mas ninguém as abraçavam
E num repente se desfaziam
Lançando-se como espuma
Sobre a branca areia
Espuma que traduziam
As lágrimas do mar sentido
Pela impossibilidade
Do abraço desejado
Tantas vezes imaginado
E outras tantas adiado
Enciumado
Também o vento dá as costas
Busca outras paragens
Arranca das árvores
Suas folhas com fúria
Jogando-as para baixo
E levantando a poeira do caminho
Em torvelinho
Empoeirando as casas
As ruas
Em um descompasso sem fim
Também eu me encontro assim
Açoitada pelo vento
Perdida em pensamentos
Olhar perdido no mar revolto
Que um dia o presenciei
Em total calmaria
E o apreciei
Também eu sinto um arrepio
Quase um calafrio
Pelo abraço tão esperado
E nunca dado
Tantas vezes também adiado