Prometa-me
Faz-me a última promessa
Mas essa a cumpra
Prometa-me cuidar-se
Prometa-me ser feliz
Por você e por mim
Viva tudo que eu não vivi
Realize os sonhos que junto a ti
Sonhamos mas não os vi
Viva tendo contigo
Um amor lindo
Viva sempre sorrindo
Prometa-me que terás
Os pezinhos pequenos
Um pouquinho os deixarás
Correr e brincar
Fazendo-se assim experimentar
Os pezinhos sujinhos para os lavar
Prometa-me que sempre os amará
E para não te atrapalhar
Prometa-me nunca de mim se lembrar
Só seja feliz
Quanto a mim, não se preocupe
Guardei-me no silêncio
Enquanto aguardo por um tempo
Em que tudo se esvaia
Para então, de outros eu peça
O meu último pedido
Pedirei que cubram-me somente
O corpo já inerte
De pétalas vermelhas
E frescas açucenas brancas
Que recitem-me um poema
Nos gemidos de um piano
Serenem meu sono breve
Com um fado de ilusão
Que mesmo morta
Me permita um sonho vão
Que queimem incenso
Sem quaisquer prantos
Plantem velas acesas pelos cantos
Iluminem-me com a luz
Para que essas sejam o que me conduz
Não pedirei por amor
Não o tive em vida
Na morte só desejo flores
Sorriam-me subtilmente
Não serei ausente
Minha alma vagar ainda
Por entre quem me vela
Portanto, não finjam
Sigam como fizeram enquanto estava viva
Derramem hinos de luz e de vento
Retalhos de palavras retidas e rendidas
Nos escombros deste tempo
Palavras que não expressam sentimentos
São apenas as esperadas
Para serem ditas nesse momento
Fazei dessa partida
Uma inspiração à origem
Como um embrionário regresso
Ao ventre da Terra mãe
Meu útero de silêncio
De amor incompleto
Cubram-me apenas
O corpo ainda presente
De rosas vermelhas
E castas açucenas
Não deixem a lágrima
Mentir nesse momento
Não é preciso fingir sentimento
E quanto a ti...prometa-me
Seja muito feliz
Apague da memória que eu existi
Guarde apenas o pouco bem que te fiz
Ou esqueça-me completamente
Se for o melhor pra ti