ESPÉCIE FÚTIL

ESPÉCIE FÚTIL

 

Quando ando por nossas cidades,

Deparo com a falta de um plano,

E lembro não ser por causa da idade,

Mas caso político, se não me engano.

 

Não temos mais árvores e sombras,

Somente marquises e os caqueiros,

Pois lotearam as praças e covas,

E só os esgotos regam canteiros.

 

Os rios ainda cruzam as cidades,

Mas as casas têm bundas pra eles,

E defecam até sem a necessidade,

Pois se paga o esgoto ter redes.

 

Estão selando a grama das praças,

Pois alegam possível falta d'água,

E só decoram ao agrado dos parças,

Pois vejo puxa-sacos batendo palmas.

 

Já não temos sombras e mata virgem,

Se o adorno de ruas e praças é o Sol,

Que nos torra e também dá vertigem,

Se no asfalto nunca nasce o girassol.

 

Esse asfalto que decora a cidade,

Deveria ser nas estradas rurais,

Ajudando o campo com a mobilidade,

E a boa logística que leva e traz.

 

As cidades não são só meras casas,

Mas são hoje as cavernas de ontem,

Pois a fogueira é feita com brasa,

E diz que labor dignifica o homem.

 

Mas os homens nascem desnudos,

E só aprendem com a experiência,

Como devoram e levantam muros,

Se não agem com o olhar da ciência.

 

O urbanismo pode traçar metas,

Mas precisa saber ser mais útil,

Senão o nosso planeta deleta,

Toda espécie que lhe seja fútil.