Amor em prosa e verso

Não me atrevo a buscar-te

Nem mesmo por um segundo

Ainda dentro de mim guardo

As palavras que proferiste

Todas as vezes que eu te buscava

Minha voz tu silenciavas

No jeito como me tratavas

Nas palavras que a mim lançavas

E tudo que eu queria, enfim,

Era que a mim compreendesse

E antes de tantas palavras dizer

Eu desejava que o amor vencesse

Mas estive enganada

E depois de tantas palavras

Minha voz silenciara

Quisera ter teu olhar em mim

E então te dirias

“Não me olhes mais assim

Que a tristeza me toma

Por tuas palavras terem dito a mim

Que amor por mim não tinhas”

Guardei as palavras

E por um tempo ainda

As negava e acreditava

Que disse-as mas não sentí-as

Apenas as usara para serem elas

As palavras que sabias

Minha alma arrancaria

E de fato a arrancou

Nas palavras ditas

Mas muito mais no que silenciou

E segui eu calada

Mergulhada em pura dor

Por que me fizestes tamanho mal?

Se tudo que eu te disse

Sobre o que por você sentia

Era claro como o dia

Mas você persiste

E no silêncio largaste-te

Chorosa entre lamúrias

Já não possuo a crença que conforta

Era amor o que eu sentia

Quando meus olhos, loucos de alegria,

Esperavam pelo dia

Sem nuvem de desgosto

Cheios de luz e cheios de esperança

Que um dia as promessas se cumpririam

E uma carícia ingenuamente mansa

Minhas mãos no teu rosto pousaria

Ah! se assim fosse!

Se eu conhecesse esta palavra doce

Que da tua boca sairia

Dizendo amar-me tanto

Que até teu pranto

Era o amor desafiando

Mas és só queixume, amado!

Talvez minha alma mesmo a ti voasse

E em um berço de flor ela embalasse

Esse imenso amor

Mas não foi assim e nada me disseste

Minha alma era, como agora, escrava

De um sonho muito diverso

Tenho alguém a quem amo mais que a vida

É que Deus abençoa esta paixão querida:

Eternamente sou a noiva desse amor

Que o tempo levou

Sem que de mim tenha tirado

Por ser ele tatuado

Não na pele mas na alma

E foi assim que em um dia muito frio.

Achei meu seio de ilusões vazio

E o coração chorando e o peito sangrando

Era o meu amor que se ia embora

E eu soluçava, enquanto alguém lá fora

Aos quatro ventos ia anunciando

Que o amor acabara

Que não havia mais nada

E eu apenas queria

Pela primeira vez na vida

Dizer que eu era o orvalho sagrado

Que dá vida e alento às flores

Eu era o bálsamo amado

Que sara todas as dores

Mas as minhas ninguém curou

Diria ainda que sou o pequeno cofre

Que guarda os risos da aurora

Que perto de mim ninguém sofre

Perto de mim ninguém chora

Mas também não foi assim

E você se foi mas não de mim

Todos os dias bem cedo

Eu saio a procurar por rosas

Que enfeitem em segredo

Minha negra cruz dos martírios

Vem para mim, alma

Que caminha outros caminhos com alegria

No meu seio o Amor existe

Eu sou uma figura triste

Meu coração vestiu toda a amargura

Embalado em místico sonho

Da voz que ressoava

Me fazendo presa no amor na delirante calma

E abri as portas de minha alma

A imensa dor que chegava

Desde esse dia nunca mais deixei-a

Ela vive cantando no meu seio

Em uma algazarra louca

Que seria de mim se de mim não fugisse

Que seria de mim se ouvisse

O que seria de mim se eu ouvisse

A voz de tua boca

Não podes dar-me amor, bem vejo

Meus sonhos eram poesia e os ideais risonhos

Todos um a um colocados

Em lago de ouro imersos

Não soube dourar os teus abrolhos

E eu procurava apenas nos teus olhos

O amor em prosa e verso

Mas o silenciara

Matara em cada estrofe

Enquanto me sepultavas

Eu apenas silenciava

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 15/09/2023
Código do texto: T7886586
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