Amor pós morte

Se da vida que vivi

Não realizei meus sonhos

Talvez no meu partir

Viva outra vida

Sem mais abandonos

Quem sabe depois que eu ir

Minha falta sentirá

E a sentindo tente me buscar

Nessa busca impossível

Por eu já não me encontrar

Vivendo no mesmo plano

Em que tentar me achar

Acabe percebendo que deixamos passar

O que sempre buscamos

Mas por medos e orgulho

Já não viveremos

Nem juntos mais nada teremos

Hoje tudo que sinto

Nesse esquecimento dessa derrota

É que me nutri

Por tanto tempo

Das ruínas que me assolam

De umas consegui

Sair sem ser morta

Mas das nossas ruínas

Escapar não consegui

Presa nos escombros

Estou viva mas morta

Não sei como ainda respiro

O que traz o suspiro

Nesse tempo tão frio

Onde viver é estar morta

Sei que guardei

Dentro da memória

Todo tempo que aguardei

No que dava indícios

Nas palavras ditas

Pelo augurado abraço

E do coração saber

Ser apenas um sonho

Por primeiro ele perceber

Serem palavras anunciantes

Como propagandas que vendem

Ser o impossível possível ser

E durante esse tempo

Tive a alma na derme

E fui deixando ser

Pensando ser possível

O amor fazer

O sonho acontecer

E escolhi errado

O caminho que ia percorrer

E tentando te fazer

Me amar e cumprir

As promessas feitas

Deixei de perceber

O que de verdade você sentia

Até porque eu cria

Que medo, como me dizia,

Você nunca sentia

E para suportar o tempo

Tantas vezes me vesti de você

Pensando que de você sabia

E assim eu resistia

Respirava nesse tubo

Devagar, sem pressa

Enquanto eu descobria

Que eras a falta do que eu era e sou

Confiei no mesmo destino

Que havia antes

Juntado dois seres distante

E que definitivamente de novo faria

Fazendo surgir o dia

Em que um seria o viajante

E a missão se cumpriria

Mas foi tudo ao contrário

Enquanto estive presa nos escombros

Vi você se afastando

De mim se esquecendo

Enquanto nem forças eu mais tinha

Pra te gritar e fazer você voltar

Vi dia a dia do caminho se extraviando

Sem ter dado um só passo

No caminho do meu abraço

Entre os escombros vi o nascer do silêncio

Vi você colocando mais pedras

Bloqueando qualquer fresta

Que pudesse ser um caminho até você

E nesse tempo vi você partir

Muda fiquei te olhando

Enquanto ia você levando

Meu coração que já nem queria

Mas no seu não querer

Partiu o levando

E já por nada poder

Permaneci no silêncio

E desobriguei-o, sem você nem saber,

Da almejante promessa

Do nunca desistir

Até porque sabia

Não a irias cumprir

Por isso hoje só aguardo

Nos escombros completamente ferida

Pela aletanda manhã pela noite enegrecida

Onde sentiremos juntos

Meu coração parar de bater

E será esse o momento do anúncio da partida

De uma vida vivida onde a própria vida

Já há muito partira

E, quem sabe um dia

Em outra vida

Depois de tentar tardiamente nessa me buscar

Possamos, enfim, viver o que nessa vida

Por decisões indevidas

Não nos deixamos viver

E só me permita

Nesse tempo de agora

Um pedido te fazer

Tire o meu corpo dos escombros

Dê a ele a liberdade

De voar entre as paisagens

Desse tempo de outono

E me prometa ainda

Não derramar uma única lágrima

Por já eu não estar

Vivendo no teu plano

E não a poder enxugar

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 09/09/2023
Reeditado em 09/09/2023
Código do texto: T7881300
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