Lamentos
Talvez já te não lembres,
Do tempo que sozinha,
À tardinha, em terras distantes,
Dividia teu tempo entre colheita de bons vinhos.
Talvez já te não lembres,
Do passar das horas,
Em que apressava-se em me ter silenciosa,
Enquanto conversávamos por um pouco de hora.
Talvez já te esquecesses,
Que assim que despedia,
Atenção à outras daria
Enquanto eu ficava só observando tua mania.
Por certo não te lembras
De como me machucava
E tonta eu desejava
Que secasse os meus prantos fazendo-se me escolher
Talvez já te não lembres com gosto
Daquelas brancas noites de mistério,
Em que a Lua sorria no teu rosto
E eu te ouvia adormecer
Talvez já se apagassem as miragens
Do tempo em que eu vivia nos teus lábios ,
Fazendo planos com as aves cantando entre as ramagens
O teu nome diziam nos gorjeios.
Quando, à brisa outoniça, como um manto,
Os teus cabelos desmanchados
Eu sinceramente te dizia
De como eras lindo e te queria do meu lado
E eu tinha tanto pra te dizer
Mas quanto mais passava o tempo
E outros problemas iam se fazendo
O que precisava ser dito guardado foi no vento
Em delírio eu supunha
Aguardando o tempo que eu pensava
Te aproximaria me permitindo a fala,
Mas o vi se afastar cada vez mais
E certamente, nesse tempo
De mim não gostou mais
Enquanto eu esperava que a saudade
Te trazer fosse capaz
A cada alvorecer o silêncio se fez ainda mais
Coragem já não mais tinha
Acreditar era incapaz
Fui te permitindo o abandono
Amando cada vez mais
Antes, quando afastados
Dos nossos mundos
Desejávamos um do outro
Todo tempo, o tempo inteiro
Não nego a covardia
Que o medo me causou
Mas morrerei dizendo
Que amei, amo cada vez mais
Mas como mariposa
Que pela luz se apaixona
Tenta ser dela
Mas ela a condena
Assim hoje sou
Amo mas meu amor
A ti não interessa
E essa é minha dor
Vivo dos antigos sonhos
Beijos que sem assombro
São fantasias daquilo que um dia
Acreditei que real seria
Talvez já te esqueceste dos poemas de amor
De tudo que eu tentava
Para que não fosse apenas minha fala
Mas provas do meu amor
De tudo certamente te esqueceste,
Porque tudo no mundo se não cuidado muda,
E triste me fizeste e só como um cipreste,
E num breve tempo sabereis que jazo fria e muda
E assentada nos ventos rudes
Sob os arcos de murta e sobre as relvas,
Terão se apagado os sonhos belos,
Sentindo a solidão das verdes selvas.
Esqueceste-te, sim, meu sonho querido,
Que o nosso belo e lúcido passado
Foi um único abraço comprimido nunca vivido
Foi um beijo, por meses, prolongado, sem ser dado.
E foste sepultar-me, meu serafim,
No claustro das frias paredes empoeiradas
Não esconda o teu rosto mais de mim
No véu negro da morte a mim delegada.
E te digo em tom tão calado como a Morte
Nesta cidade à mim sombria,
Chorando aflitamente a minha sorte
E prelibando o cálix da agonia,
E, te falo com verdade,
Se pudera na terra achar mais suplícios,
Para que meu amor quisera ter
Me cobriria a carne de ácidos
Se isso vida desse mais
À mim e ao amor que me trai