ATRASO

Você,

Pessoa à toa,

Perdeu a sílaba tônica

Acentuou nota errada

Desaprendeu a ser nada

Supondo ser babilônica

Você,

Pessoa à toa,

Ditará moda passada

Pensará ser bastante

Usará tons gritantes

Propondo estar rebuscada

Esticou a mão: a lotação passou!

Atende à ligação: ninguém telefonou!

A sua paz está agitada

Pelo que ecoa no amplo vazio da existência atrasada

Para você, a ave não voa

É o céu que por excelência desce a escada

Pois você argumenta que o rio nasce é pela foz

E que a dor é o navio da clemência à toa

De quem grita por dó

Tendo a boca fechada.

Acha que o mundo é achatado

Acha que tem um achado

Acha que tudo é pecado

Acha que sabe achar por si só

Dizer que o sol não existe

Que é a mais pura das criações

De quem ainda insiste

Em domar opiniões

E que a voz é um requinte

Pra impor a razão.

Desachatando o mundo, em gerúndio,

Lá no fundo (eu) redundo, retumbante:

_ é a voz do tolo errante

Crendo ser iluminado

Ostentando brasões

Feitos de arame farpado

Ecoando exaltadas canções

Que reverenciam fracassos

Criando ocasiões

Sonhando empunhar artefatos

Evidenciam senões e colecionam retratos

De um passado apagado

Passando o dia em sessões

De delírios atordoados

Adicionando botões

Num paletó abotoado.