Deixa-me na chuva
Quero a chuva sentir
Tocar todo o meu corpo
Pingo por pingo cair
Molhando o meu rosto
Quero desatar essas amarras
Correr até lá fora
Molhar esse meu corpo
Não importa que louco seja
Quero me sentir viva
E a vida me molhando
Quero sentir-me como criança
Pular na poça
Molhar toda roupa
E ainda abrir a boca
Para gota a gota
Saciar minha sede
Sede de vida
Sede da infância
Sede dos sonhos
Quero sair dessas paredes
Sentir o aroma
Da estação mudando
Sentir o frio de agora
Para viver a primavera
Ver as flores no canteiro
Me perfumar com o teu cheiro
Quero tirar de mim
Todas as agulhas
Que meu corpo perfuram
Me prendem nesse lugar
Não me permitem sonhar
Quero essa chuva
Que a janela agora molha
Quero nela confundir-me
A ponto tornar-me ela
Não quero mais aqui
Quero estar lá fora
O frio que sinto aqui
Não sentirei lá fora
Quero só sorrir
Por a chuva permitir
Tomar esse meu corpo
Em um abraço úmido
Que minha alma aquece
E a dor me faz esquecer
Tira de mim tudo que me prende
Me ajude a ficar contente
Deixe-me esquecer
O que hoje eu sou
Leve-me para chuva
Ajude-me a ter outras lembranças
Mais alegres e puras
Onde a dor não perdura
E se depois da chuva
Meu corpo guardar vida
Toma-me no colo
Volte-me as correntes
Assim terei comigo
Lembranças de sorrisos
Que há tempos não vivo