Deixa-me na chuva

Quero a chuva sentir

Tocar todo o meu corpo

Pingo por pingo cair

Molhando o meu rosto

Quero desatar essas amarras

Correr até lá fora

Molhar esse meu corpo

Não importa que louco seja

Quero me sentir viva

E a vida me molhando

Quero sentir-me como criança

Pular na poça

Molhar toda roupa

E ainda abrir a boca

Para gota a gota

Saciar minha sede

Sede de vida

Sede da infância

Sede dos sonhos

Quero sair dessas paredes

Sentir o aroma

Da estação mudando

Sentir o frio de agora

Para viver a primavera

Ver as flores no canteiro

Me perfumar com o teu cheiro

Quero tirar de mim

Todas as agulhas

Que meu corpo perfuram

Me prendem nesse lugar

Não me permitem sonhar

Quero essa chuva

Que a janela agora molha

Quero nela confundir-me

A ponto tornar-me ela

Não quero mais aqui

Quero estar lá fora

O frio que sinto aqui

Não sentirei lá fora

Quero só sorrir

Por a chuva permitir

Tomar esse meu corpo

Em um abraço úmido

Que minha alma aquece

E a dor me faz esquecer

Tira de mim tudo que me prende

Me ajude a ficar contente

Deixe-me esquecer

O que hoje eu sou

Leve-me para chuva

Ajude-me a ter outras lembranças

Mais alegres e puras

Onde a dor não perdura

E se depois da chuva

Meu corpo guardar vida

Toma-me no colo

Volte-me as correntes

Assim terei comigo

Lembranças de sorrisos

Que há tempos não vivo

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 01/09/2023
Reeditado em 01/09/2023
Código do texto: T7875791
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