Disse sem te dizer

Andrajos representam a pele que a meu corpo cobre

Não sendo capazes de representar meu interior

Por ser ela ainda um traje

Que esconde muito de toda dor

Dor que por ser de mim parte

Olhando-me não verás o que me aflige

Incapaz sou eu de dizer-lhe qualquer detalhe

São tão minhas que as palavras a desconfiguram

E as espremo para que não escapem

Incomodar aprendi não ser prudente

Por isso, entre paredes frias

Quartos vazios

Deixo a carne nua

Sangrar em lágrimas silenciosas

Quase em um grito

Que só os meus ouvidos

Cada timbre toca

Em fetal posição

Me encolho junto a solidão

Largada em frio chão

No gélido frio noturno

Meu corpo se enternece

Imóvel permanece

Enquanto em vão

Segue o tempo

Até que a escuridão

É rompida pelos raios

Que o quarto frio invade

E o corpo quase sem coragem

Um pouco mais rasgado

Aos poucos se reergue

Maquiando tudo que a noite

Na carne tatuou

E outra vez sai

No silêncio encolhido

Fingindo não sofrer

Não é força nem coragem

É pura necessidade

É sobreviver

É proteção

Evitando mais sofrer

É só o coração

Sabe a realidade

E se algo guardo

E nisso me agarro

É saber que quando à você falei

Do amor que por ti sentia

Não ainda consegui

Dizer-lhe nem a metade

Mas cada palavra dita

Era verdadeira

E se no presente tempo

Não te posso dizê-las

Ao menos te desejo

Que desconheça esse sofrer

E que os teus dias

Sejam repletos de calor

Guardadas no teu corpo

Para no anoitecer

Sinta tua alma aquecer

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 30/08/2023
Código do texto: T7874109
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.