Disse sem te dizer
Andrajos representam a pele que a meu corpo cobre
Não sendo capazes de representar meu interior
Por ser ela ainda um traje
Que esconde muito de toda dor
Dor que por ser de mim parte
Olhando-me não verás o que me aflige
Incapaz sou eu de dizer-lhe qualquer detalhe
São tão minhas que as palavras a desconfiguram
E as espremo para que não escapem
Incomodar aprendi não ser prudente
Por isso, entre paredes frias
Quartos vazios
Deixo a carne nua
Sangrar em lágrimas silenciosas
Quase em um grito
Que só os meus ouvidos
Cada timbre toca
Em fetal posição
Me encolho junto a solidão
Largada em frio chão
No gélido frio noturno
Meu corpo se enternece
Imóvel permanece
Enquanto em vão
Segue o tempo
Até que a escuridão
É rompida pelos raios
Que o quarto frio invade
E o corpo quase sem coragem
Um pouco mais rasgado
Aos poucos se reergue
Maquiando tudo que a noite
Na carne tatuou
E outra vez sai
No silêncio encolhido
Fingindo não sofrer
Não é força nem coragem
É pura necessidade
É sobreviver
É proteção
Evitando mais sofrer
É só o coração
Sabe a realidade
E se algo guardo
E nisso me agarro
É saber que quando à você falei
Do amor que por ti sentia
Não ainda consegui
Dizer-lhe nem a metade
Mas cada palavra dita
Era verdadeira
E se no presente tempo
Não te posso dizê-las
Ao menos te desejo
Que desconheça esse sofrer
E que os teus dias
Sejam repletos de calor
Guardadas no teu corpo
Para no anoitecer
Sinta tua alma aquecer