Abismo
Entre tantas pessoas
Vamos nos encontrando
Por umas passamos
Tempos de sorrisos
Brincadeiras e planos
Por outras o coração voa
Abandona o corpo
Ao encontro do outro
Nada mais te pertence
Pensamentos
Sentimentos
A vida morre
Se não está com a pessoa
Não porque se escolhe
A escolha não foi tua
O coração escolheu
E tudo à ele cedeu
Mas para algumas pessoas
Encontros se singularizam
Um vive, sente
O outro mente
Pois há o que não crê,
Não ama,
Não espera,
Diz ser
Aquele que ninguém quer
Espírito de eterna negação
E mesmo muito amado
Teu hálito gelou-me o coração
Nas palavras perversas
Duramente escolhidas
Para causar-me
Mais feridas
Enquanto as preferia
As lágrimas escorriam
Desmoronaram o castelo
Dos sonhos e ilusões
Fez tudo voltar à escuridão
Arrancou de mim a crença
Que nasceu quando o inverno
Abandonou meu coração
Mas repetiu-as tantas vezes
Que a dúvida se dissipou
A primavera que nascera em minha alma
Viu suas flores arrandas
Pelos teus pés pisadas
Fiquei entre as trevas abandonada
Atravessando regiões auteras
Cheias de bravas feras
Dormir não era opção
Pesadelos me assombravam
Em cada minuto de olhos fechados
Ficaram na mente
Guardadas como semente
Os tantos nãos
Que a vida me dera
E nesse desatino
Meu coração inconciente
Sente a dor
Mas também sente
O amor que outrora
Noutros tempos
Sonhar ousou
Parece que se nega
A crer que no presente
A primavera findou
Quer se opor a sorte
Crer que nada acabou
Ser esse um tempo
De grande lamento
Mas que por ser tempo
Passará e virá
Uma outra estação
E quiçá será
A primavera a voltar
Mas por toda vida
Nunca vi ninguém voltar
Vivi muitas partidas
Passei anos a esperar
Crer nesse momento
Que isso irá mudar
É opor sorte
Crer que o egoísmo
Esse mundo abandonou
Então apenas peço
Meu pobre coração
Deixa aos tímidos
Deixa aos sonhadores como eu
A esperança vã
Vão sonhos
Teus vãos fulgores
Que sempre terminam
Com os lábios encostados
No travesseiro molhado
Fingindo um beijo de amor
Sabe tu enfrentar
sereno
O eterno abismo
Em que ambos vivemos
Sem que tenhamos
Prender ninguém a nossa dor