O cigano e a carroça

Rio, 26/ 08/23.

E lá se vai o cigano pela estrada, sem levar nada na mão.

Conduz a sua vida ao infinito espaço

Conduzindo a carroça pela amplidão.

Perguntaram a ele o que era da sorte, se não possuía nenhuma.

Disse ele que, a sorte é como a fruta madura caindo do pé;

Sacia a quem tem fome, e quem enxerga por detrás da bruma.

Perguntaram-lhe se tinha fé, se cria em Deus...

Será que o enjeitado possuía uma bíblia,

Ou alguma história, significante a contar?

Disse: a bíblia do cigano, o gadjô deu para o burro comer.

Ela era toda escrita na folha do alface.

Quem quiser conhecer mire seus olhos, e enxergue a sua face.

O sofrimento não tem espaço para o cigano,

Tudo se vive, intensamente, mesmo o desengano!

Ciente de que Deus não larga, não abandona.

Ele segue crédulo em destino, e de tudo se afasta.

Eu não creio e não cumpro o que eu não desejo,

Não compreendo o raciocínio do traste!

Sorriu e disse: somos como o sabaco na coleira, presa na carroça.

Para cá se anda, e para lá se dá voltas.

Mas quando a carroça anda, se ele não for, a carroça arrasta.

Dalã Calon.