Linhas do tempo

Nas linhas marcadas

Pelas palavras escolhidas

Deixarei registrada

Partes de uma vida

Não será de sonhos

Ou palavras de amor

Impregnarei cada linha

Com o que na veia

Distribuído por meu corpo

E me faz quem sou

Não espere alegrias

As palavras serão frias

Expressão de pura dor

Não há sorriso puro

É sempre impregnado

Meio embaçado

Por tudo que passou

Talvez espere que eu deva

Esquecer todas as vezes

Que a vida me enganou

Pois então entenda

Como foi ser pequena

Dentro do desamor

E não se ofenda

Mas pense num berço

De acrílico

Frio

Sem mãos de acolhimento

Mas olhares de lamento

Pense no desespero

De quem a esse mundo chegou

E seu primeiro beijo

Foi o abandono

Solitário caminho que iniciou

E depois, se te for pouco

Pense em como se sente

Alguém que ninguém na vida

Alguém olhou ou desejou

Mas posso te dizer ainda

Se te for pouco essa dor

Siga por uma estrada

Completamente perdida, sem direção

Se protegendo da vida

E de tudo que possa ser mais dor

Talvez ainda pense

É bobagem, todos sentem

Em algum momento

Alguma dor

Mas te falo tranquila

Meu momento nunca passou

Continua dia a dia

Em cada não

Em cada silêncio

Na certeza que nem no pensamento

Viva estou

E caminhando nessa linha

Ainda bem resumida

Te darei outras palavras

Explicando o que sou

Sou aquela escolhida

Para passar por essa vida

Solitária

Vivendo cada dor

Nesse tempo infecundo

Talvez me seja o mais sereno

Pois na dor que hoje tenho

É meu corpo o portador

E de tempos em tempos

Pelo cateter permito

Adentrar nesse meu corpo

Minha dose de veneno

Que comigo segue

E por quatro dias verte

Me causando mais dor

Mas quando termina

Outra fase inicia

Não mais tranquila

Pois o mais simples que eu sinto

É não ter nenhuma força

E ao meu corpo permitir

Viver o que está a sentir

Então se pergunte

Como alguém que é sozinha

Consegue carregar tantos pesos

Onde até um banho

É algo complexo

Vou vivendo como posso

E se me perguntar de sonhos

Apenas te reforço

Como posso ter sonhos

Se quando precisei

Da tua mão na minha

Todas as palavras tuas

Não disseram uma vez

Do amor que deveria

Unir e fortalecer

Hoje agradeço

Não sou peso pra você

E o que quer que aconteça

Não será de amor que irei morrer

Esse é só meu

Levarei comigo

Sem nunca mais anunciá-lo à você

Mas talvez um dia entenda

Só não sonho que irás me dizer

É finito o nosso tempo

E nunca mais te ouvirei

Mas não lamento

Foi como tinha que ser

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 22/08/2023
Reeditado em 22/08/2023
Código do texto: T7867908
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