Desequilíbrio

O primeiro dia foi de miséria,

os demais também.

Não fosse a carne do porco,

a fome seria total.

E, depois, um tiro certeiro

quebrou a asa de uma ave.

(Uma das asas ainda batia)

Desiquilibrada, caiu.

Com apetite voraz,

segurou-a pelo bico,

enquanto abria o pescoço.

O ar encheu-se de sangue.

Barriga vazia.

(Abatida, consumida)

Por tempos, salvou seu corpo,

mas a alma,

miserável,

morria, dia após dia.

(Do livro Abstratos poéticos)