Frio que não passa
Um gélido frio percorre o meu corpo
Ao abrir a janela bate em meu rosto
Uma brisa comum a aurora
Mas que toca-me como faca
Fazendo doer a face nua
Que rubra em febril delírio
Jura tê-lo visto
Em um ponto distante
Vindo lá por trás dos montes
E um tímido sorriso
Enfeita meu padecer
Dando-me forças para na janela
Com todo frio que há nela
Querer permanecer
Mas num piscar de olhos
Quando volto a olhar
Já não o vejo
Foi um lampejo
E o sorriso se desfaz
Carrego o meu corpo
Fazendo grande esforço
Para o leito onde jaz
Os sonhos agora mortos
Os planos de outros tempos
As palavras que no vento
Se perderam no nunca mais
E entre tantos fantasmas
Deito-me tentando
Não delirar mais
Enquanto o meu pranto
No travesseiro cai
E se me perguntar por que choro
Eu apenas digo
Das dores do corpo físico
E nada mais
Não conto do que sinto
Do amor que meu peito traz
Finjo que é só isso
E que o tempo logo irá
Curar tudo que sinto
E chorar não irei mais
Deitada nesse leito
Encolho-me
Respiro devagar
Tentando acalmar
Essa alma desprezada
Com quem a vida foi capaz
De tirar qualquer centeio
Onde encontrasse paz