TEMPO DE EUREKA
TEMPO DE EUREKA
Tem gente que disse sobre o saber,
Que o quantum de sapiência tortura,
Mas o pente teima a caspa reter,
Mesmo que ela se devote mais dura.
Houve os meus momentos de astúcia,
Que ainda teimam em ver e aprender,
Mas o que aumenta é só a angustia,
Por causa de quanto me falta saber.
Seria mais fácil morrer logo cedo,
Pois aí estaria eternamente jovem,
Com a felicidade do jovem sem medo,
Por ter a força dos que não morrem.
E chega um tempo de fruta e eureka,
Em que toda queda define as forças,
Ou as gotas de sangue melam a cueca,
Pois é certo que cesto não é bolsa.
Começamos de quatro buscando leite,
Ficamos de dois para colher a manga,
Nos arrastamos do chão para o leito,
E usamos cajado para andar na lama.
Mesmo assim, nós caímos sem o calço,
Tropeçamos em atos comuns à cegueira,
Ficamos desnudos ou mesmo descalços,
Num tempo que não tem eira nem beira.
E chegam os vírus e pragas do Egito,
Mas logo dizemos que é falta de fé,
E nos esquecemos da dor e dos gritos,
Que só na tortura nos dizem o que é.
Se nego o pão a quem está faminto,
Ou nego o ar para quem se sufoca,
É essa a verdade ou será que minto?
Pois sei quando é dor que me toca.
Se eu não me importo, serei médico,
Ou sou o carrasco que ri da vítima,
Serei político que rouba o crédito,
Ou vivo sem aceitar a sua crítica.
Será que eu tenho o mundo aos pés,
Ou tenho o manejo da tua destreza,
Será que eu sei que Deus e tu és,
A única razão da centelha acesa.
E agora estou cada dia mais louco,
De tanto delirar e buscar a visão,
E sonhando, fico até tonto e rouco,
Depois de andar e falar da razão.