Epílogo
A noite despertará monstros adormecidos.
O implacável ruído das carpideiras velará sonhos,
acordará morcegos para o banquete de sangue.
O escuro azul do véu que cobrirá a alma
esconderá as marcas do sofrimento.
O dia ameaçará adentrar as janelas,
cálido em amarelos claros,
com a força que desbota as aquarelas,
fazendo sombras e, refletindo nelas,
o tormento do sino sem badalos.
Abrir-se-ão moradas sepulcrais
em meio a furdunço desautorizado e silvestre,
da forma que fizeram os plantonistas de janela,
na vigência ilibada de vida tida como discreta:
- Licença concedida pelos céus ao dito salafrário.
Não. Sem bajulações de arautos,
nem piedade de falastrões.
Bastará que conste nos autos
que, pela vida, abominou as falações.
(Do livro Abstratos poéticos)