CONTÍNUO DE ETAPAS

CONTÍNUO DE ETAPAS

 

Para mim há dois tipos de dias,

Onde o dia tem luz e escuridão,

Mas também há quem nos assedia,

Desde quando a lua pede perdão.

 

O cosmo sabe bastante de escuro,

Mas isso é um engodo que temos,

Pois entre trilhões eu procuro,

A luz parteira em que nascemos.

 

Nessa incomensurável contagem,

Vislumbro tão perto o meu fosso,

Que chamam de quasar em viagem,

Mas será o meu bom calabouço.

 

Nele guardarei minhas sementes,

E através dele verei dimensões,

Terei só a mente ou novos dentes,

Pra recomeçar versos e canções.

 

Será que terei direito a falar,

Ou serei mudo no aguardo do vento?

Terei uma cabeça para unha coçar,

Ou pés e dedos virão como alento.

 

Se eu fosse um visionário, eu diria,

O que haverá, mas somos o passado,

Pois, desde a hora em que haveria,

Até quem sorria eram só abestados.

 

Se a vida é um contínuo de etapas,

Somente o Deus cósmico irá saber,

E não a pretensa versão das fadas,

Onde Deus diz o que quero dizer.

 

Tem quem acredite apenas na morte,

Mas eu prefiro celebrar a evolução,

Se há matéria, luz, tempo e sorte,

E estar onde devo talvez seja ilusão.

 

Quem quer ter razão e não a hipótese,

Poderá nunca saber pois o raio caiu,

E era só um campo limpo ou uma posse,

Mas quem suspirou foi o céu se abriu.

 

Os templos ruirão mesmo com a fé,

Porque o mistério não é matemático,

E as almas não serão rastros do pé,

Como ser livre não é algo enfático.