DISTANTE DE CASA
DISTANTE DE CASA
Estou dentro de uma astronave,
Mas eu já apertei o meu cinto,
Pus o capacete e asas de ave,
Porque é tudo que pressinto.
Vou surfar mais veloz que a luz,
Indo ali pra voltar num instante,
E a sua distância já me conduz,
Ou faz de mim um ser replicante.
Se eu contesto a tudo que vejo,
É porque viajo além do momento,
Mas eu guardo só um bom realejo,
Pra tocar o que sei de pequeno.
Fui forjado no núcleo da estrela,
Que estava a olhar para a Terra,
Desde quando fui aquela centelha,
Que se acende sem querer guerra.
Fiz as revoluções necessárias,
Entre as galáxias e as nebulosas,
Mas na nuvem de virgem há várias,
Que nem conto na mesa de prosas.
Vi o meu lar distante de casa,
E não sei se foi sonho acordado,
Mas, decerto, aceso fui brasa,
E voei com meu Halley ao lado.
Dei a volta em torno de Órion,
Mas também contornei Jericó,
Passeei em Antares com o tório,
Pois urânio agasta como jiló.
Mas volto um dia e lhe escrevo,
Pra dizer quase tudo por cartas,
Como se estivesse em um sebo,
Antes dele ser ninho das ratas.
Como um dia estive em Alexandria,
Fui olhar antes de atearem fogo,
Pois as bestas criaram heresias,
Sem cultura e as velas do bolo.