Delírio

O píer fica imóvel,

enquanto o navio se afasta.

Vou ficando cada vez mais sozinho,

- Eu e o livro -

que agora, há pouco,

lia, ouvindo o barulho das ondas.

À noitinha, a neblina virá,

como sempre vem,

e mudará meus pensamentos.

Lembrar-me-ei das nuvens brancas

que abrirão o dia, amanhã,

e terei vontade de escrever

um verso nelas.

Mas o giz não alcança

e, se alcançasse, seria da mesma cor:

- ninguém leria.

Ideias são, por vezes, delirantes.

Eu morro, como morre a sombra ao anoitecer.

- É o destino –

Depois,

desapareço na imensidão das águas,

cavalgando ondas da imaginação.

(Do livro Abstratos poéticos)