Face Desbotada

 

Vida plana, vida leve, vida casta,  

Vida brisa, vida sede, vida breve.

Na porta da cidade vão-se as certezas,

Abraça-se o trânsito feroz das realezas. 

 

Entre outros tantos encantos 

Onde trituro velhos enganos

Que toma o ser por inteiro, 

Sorvo agora a espuma dos anos .

 

Que me abram portas e me prendam,

Que me toquem o norte e só gemam

No sul do meu desejo gritante,

Ao norte da minha fome gigante. 

 

Minha alma torta no dorso cala

Na geométrica calma fala, conscente

No vertical ou no horizonte do alado

Ser que chega quando eu não quero.

 

Que me larguem solto na rua,

Na minha outra face me acenda

Ou dê-me de castigo uma prenda.

Dobro os joelhos indefeso,

 

Sou o outro que ultrapassa o sinal

E se esparra na sombra mortal, 

Tenho querido pouco não me engano

Quero hoje somente abandono.

 

Ontem fui a procura mais desejada

Pés cansados e andarilho pelas calçadas.

Mas o peito não aprovou a estada

A presença absurda, a chegada.

 

O momento estacionou o verbo

No vazio a loucura calou a vontade.

Projeto de um novo dia vejo

Na concepção do meu desejo. 

 

No vai e vem do rosário os dedos

Alinhavou a solidão das pedras,

Ajoelhou em penitência própria 

E acariciou a face desbotada. 

 

O carro passou sobre as gramas

E foi esquecido na cidade velha.

Foi levando, velozmente sem aviso,

Sem apito a quebrar o sinal aceso. 

 

És o coração do menino, pálido, franzino

Marcado por grandes rompantes.

Passou sobre as gramas da nova cidade

Sem lembrar da roda gigante.