Âmago
A quem se dispuser
Olhar-me atentamente
Verá o quanto é tênue
Essa figura moribunda
Cuja face descorada
Revela um ser sorumbático
Cuja vida não poupou acrimónia
Fazendo desde seu preâmbulo
Meu corpo tiritar
Por venéficos encontros
Implícito nas palavras
No desdém em me tratar
Tudo sempre deletério
Um caminho lúgubre
Iluminado na quimera
Do amor encontrar
Foi por um tempo
Meu refrigério
Onde pude sonhar
Mas com tantas cicatrizes
Foi difícil acreditar
Que não era a vida
Novamente a me achincalhar
E por isso eu fugi
Tentando não me ferir
Era para mim inane
Não via como crer
Até porque haviam
Engodo nesse nascer
Mil fantasmas perambulavam
Suas vozes venéficas
Não me permitiam ver
Era tudo insalubre
Tudo afastava você
Afundei nas palavras
Enlouqueci sem perceber
Que hodiorno se fazia pra viver
Busquei por um homizio
Tentando te manter
No amor que eu sentia
Nas palavras que te repetia
Em cuidados que achava ter
Mas no pêndulo do tempo
Via o fenecimento
Morria um pouco mais o meu ser
As lágrimas escorriam
Você delas sabia
Mas já não importava ser
Tornou-se tibio
Quando antes era loquaz
E se te dizia
Pérfido se fazia
E outras lágrimas vinham
O arroubo adormecido
Pareceu dizer que o sentimento
Veio extemporâneo
Ou que não existia mais
E quando o que era Implícito
Emergiu à superfície
Mesmo com infinitas desculpas
De coração ditas
Perdoar não foi capaz
Disse em muitas palavras
Vilipendiosas e venéficas
Desfilando sobre meu corpo
Meus erros e erros que nem cheguei a errar
Tentar explicar
Era razão pra outras lanças jogar
Percebi que era o pináculo
Fenecimento do sonho
Mas não a morte do amor
Que por mais estranho
Resistiu a toda dor
A quem se dispuser
Olhar-me atentamente
Verá o quanto é tênue
Essa figura moribunda
Que nesse tempo
Não procura teu sentimento
Pois entendeu que acabou
E segue como a flor
Que somente sob a lua
Se revela às escuras
E no sugir das primeiras luzes
Fecha-se pra não morrer