A pianista
A sala vazia
Um silêncio que doía
Lentamente caminhei
Os meus passos escutei
Eles tiravam daquela sala
O que a invadia
As cortinas fechadas
Pouca luz entrava
Num canto esquecido
Um piano envelhecido
A poeira lhe tomava
Ninguém o mais tocava
E deitada ali ao lado
Em um sofá todo rasgado
Uma senhora adoecida
Que ao perceber a solitude
Ser quebrada em meus passos
Pôs-se logo a dizer
Que bem-vinda era a criatura
Que adentrara no seu padecer
Lhe tirando a solidão
Então estendia-me a mão
E dizia-me para sentar
Onde ela me pudesse olhar
Assim que perto cheguei
Minhas mãos me segurou
Dentro de mim ela olhou
Sorrindo disse logo
Tens o coração sofrido
Muito já tens vivido
Mas tudo irá passar
E me apontando
Para o velho piano
Disse para o observar
Já fazia muito tempo
Que ninguém se propunha o tocar
Fora largado no abandono
Mas toda beleza ainda ali está
Por ser ele um piano
Sua essência enchia o lugar
E mesmo ofegante
Continuava a falar
Das encríveis melodias
Que nele se podiam criar
Bastava que as mãos certas
Lhe sentissem na suavidade
Do ouvir ao tocar
Cada tecla no tempo certo
Na ordem para criar
O som que formaria
A mais linda melodia
E faria o coração palpitar
Depois de uma pausa
De novamente me olhar
Perguntou-me se eu entendia
Como amor e melodia
Nada mais eram que sinfonias
Cuja maestria
Consistia no encontro e no cuidar
Olhei para o piano
Deu vontade de tocar
Mas me veio a pergunta
E a fiz sem nem pensar:
Amor não é dueto
Onde dois precisam tocar
Nessa sincronia
Para não desafinar?
E sorrindo ela disse
Agora você compreendeu
No piano há o solo
E tudo acabará
Em prefeita harmonia
Mas se no amor
For um solista a teclar
A composição nunca terminará
Faltaram as notas escritas
Para o outro continuar
Amor não é instrumento
É a composição de sentimentos
Que dois precisam cuidar