Devaneio
O crepúsculo já se faz
Pela cidade vagueia
Rumo não tem mais
Segurando-se nos muros, tateia
A mente entorpecida
Por tantas dores sentidas
Hora traz memórias
Sonhos e despedidas
Hora apenas traz
Dores adormecidas
Se perdendo na escuridão
Da cidade fria
Apenas caminha
Sonhos não tem mais
As paredes são as mãos
Que a deixam em pé
Nessa contínua caminhada
Sem ponto de chegada
Pois perdeu a fé
Não foi anjo
Nem diabo
Foi um ser qualquer
Derrubado tantas vezes
Levantando-se nas paredes
Por não ter a mão
Que a ela erguesse do chão
Nos caminhos vividos
Tantos nãos recebidos
Invisível aprendeu a ser
Os sentimentos guardados
Molhados no adormecer
Entre cada soluço dado
Outro dia a amanhecer
Nunca houve uma chegada
Nunca houve uma despedida
Sua vida é cheia de nadas
Não há ponto de chegada
Fez de um sonho
A razão para viver
Esqueceu quem era o seu ser
Sonhou acordada
Com medo do anoitecer
Sabendo que na madrugada
Quem era iria fazer
Destruir cada sonho
Jogá-la na escuridão
Tateando pelo chão
Se quando não fez nada
Não teve nenhum perdão
Sendo agora a culpada
Só teria a solidão
Mas guardado dentro dela
Num perpétuo existir
Sendo ou não amada
Seu amor permaneceria ali
E, não num sonho,
Talvez num devaneio
Ela posso sentir
Tudo que nunca teve
E a solidão morra enfim
Quando seus olhos vermelhos
Se fecharem por fim