SOB O VENTO, SOBRE O FUTURO

SOB O VENTO, SOBRE O FUTURO

 

Sob o vento cresci e fui alto,

Um magricela sem musculatura,

Sendo o refugo de avós mulatos,

Mas fui sangue da nova cultura.

 

Fui como ovo quase sem gema,

Porque a clara secou, secou,

E por quinze horas de novena,

Foi a loucura do velho doutor.

 

Era um saco vazando por horas,

E eu dentro sem poder gritar,

Pra dizer que dali sem demora,

Eu viria ao mundo inquietar.

 

Mas não disseram sobre o futuro,

Se coluna e coração são frágeis,

E curtir com flores no escuro,

Só mesmo em delírios selvagens.

 

A questão é saber porque pago,

E se isso tem causa ancestral,

Se é dilema de alma e de magos,

Ou as poções já não curam o mal.

 

O conforto é não ter consciência,

Se é pecado viver como um cometa,

Que só acende ao sol sua potência,

Pois se apaga longe desse planeta.

 

Só não quero que a morte me apague,

Pois eu prefiro o calor do atrito,

E por isso transcrevo a quem pague,

Os versos que ninguém viu escrito.

 

Ainda hoje sobrevivem os autores,

Que não queimaram em inquisições,

Se Alexandria tem novos senhores,

Onde o mundo quer outras versões.

 

Certamente, não terei descendentes,

Depois que passarem dez mil anos,

Pois das fendas brotarão serpentes,

E as labaredas levarão os humanos.