O VALOR E O ADUBO
O VALOR E O ADUBO
Creio já ter tido algum valor,
Pois guardo em mim sensações,
Sem poder dizer se fui de pudor,
Ou se vivi em meio às tentações.
Eu sei ter o sangue mesclado,
Que guardam raízes e eventos,
Misturas daqui e de outro lado,
Que chegaram até pelos ventos.
Serei eu a poeira além do Saara,
Ou será que caí sobre o oceano?
Verei a Amazônia e a onça parda,
Ou o uivo do lobo num altiplano?
Já pensei em ser como um fósforo,
Mas não sei se acendo ou adubo,
Porque se acendo, será luz ou fogo,
E se adubo eu não sei o que mudo.
Se eu for adubo só quero natureza,
E não as mentiras que só conspiram,
Quero ver as flores com a beleza,
Pois essa realeza a todos inspiram.
Em meio ao jardim, sou além Babilônia,
Ao querer a luz do farol de Alexandria,
Mas a torre alta é vertigem e insônia,
Então sou deserto e a Gizé é agonia.
E quando o calor vier como cometa,
Quem vai trazer o centro do quasar?
Porque meu pecado se faz anacoreta,
Quando o meu erro é não ser avatar.
Não quero engolir estrela e planeta,
Mas quero existir em cada dimensão,
Por isso, entendam o furo na cesta,
E os buracos negros como remissão.