Folhas Vazias

 

Não vejo a tua face

E nem nela me espelho.

Não tenho tempo agora,

O relógio não espera, não espera;

Seus ponteiros correm e eu assisto

O despontar dos fios brancos.

 

Já não reparo em teu sorriso

E nem reparo o teu dia.

Não me peça informações,

As notícias dos jornais sangram.

Não posso enxugar teus olhos,

O relógio atropelou as horas,

Os ponteiros enlouqueceram.

 

Tenho que ir-me, há muito a fazer,

É que as trombetas soaram a tempo,

Deixei a beleza na sala de estar.

Hoje aparei os cabelos e as unhas,

Coloquei um tênis com

amortecedores,

Pois ouço os passos da verdade no

corredor

E nas esquinas passa veloz o descaso.

 

Não espere, não posso parar para

beijar-te

A bolsa de valores despencou,

​Eu, eu te amei sozinha por muito

tempo. 

Corro...corro.....corro a salvar o resto.

Há velocidades nas ruas tudo tem

estado humanamente louco.

 

Carros se beijam, se tocam

Derramando tinta vermelha no asfalto.

Quase sempre um deles vai embora

Sem olhar pra trás, eu deixei você ir. 

 

O tempo não para, não para, não para.

Veja! o calendário rói as pontas dos

dedos

Porque o salário nasce e no dormir,

Morre os dias fartos.

O sonho salta da carteira

E passeia diante dos olhos

Enquanto no fogo a panela ferve a

esperança.

 

Nos velhos trilhos os trens descansam

E os metrôs aceleram os passos.

Nesse instante o guardião das horas

Se agita vendo as folhas vazias.