Um brinde
Hoje quero brindar
Brindar ao que sou
Brindar aos meus defeitos
E até ao que dizem que sou
Levanto um brinde a vida de abandono
A ser um cão sem dono
Um brinde quero fazer
Aos fracassos que vivi
Aos tantos nãos que obtive
Quero brindar a tudo que me mata
Ao que minha essência assalta
À minha alma ferida
Que nunca achou abrigo
Ergo um brinde às portas fechadas
Aos meus muitos nadas
Brindo ao que anda estranho
Aos tumultos da minha vida
Às tristezas que se confundem
Com as saudades que me iludem
Ao sono desaparecido
Ao cansaço constituído
À angústia quase habitual
Ao tédio normal
Tenho morrido muitas vezes
E à isso também brindo
Depois de cada morte
Brindo ao respirar
Lavando o rosto
Para continuar
Brindo a coragem de morrer
Brindo a força do renascer
Brindo ao fingimento em ser sol
Quando o que cega é a lua
Brindo ao infinito mar
Que disfarça meu chorar
Brindo a covardia
De tudo que me mata
Nas palavras vazias
Brindo a todos
Que me mataram pra valer
Mas aviso dessa vez
Não me deixem renascer