MINHA VELA NA CALMARIA

MINHA VELA NA CALMARIA

 

Guardei minha vela para a canoa,

Desde o dia que sua nau afundou,

E tenho saudades das prosas boas,

Que tive contigo sobre o que sou.

 

Já chegava a penumbra da tarde,

Dizendo que a noite nos convida,

Mas a minha canoa é um aparte,

Pra cada conversa sobre a vida.

 

Abri a vela e era só calmaria,

Então pus os remos pra navegar,

E estava na praia de uma baía,

Olhando os casais aqui e acolá.

 

De repente surgiram os índios,

Com a roda de pretos da capoeira,

E usavam os cocares mais lindos,

Numa praia com o nome Ribeira.

 

E no outro lado da península,

Encontramos lá o Rio Vermelho,

Foi ali que sujaram a túnica,

Com o sangue usado nos selos.

 

Os dias de escravidão atormentam,

Pois se valeram dos meus ancestrais,

Que fizeram os tijolos e edificaram,

Os portos, palácios e as catedrais.

 

Em vez de cimento, foi liga de sangue,

Além de usarem o óleo das baleias,

Todos nós sendo o lodo no mangue,

Ou torturados sob o jugo das peias.

 

O chicote foi um trauma espanhol,

E as bragas foram dos lusitanos,

Mas tudo era escárnio sob o Sol,

E nos diziam serem os puritanos.