A BUSCA NA ESCURIDÃO

A BUSCA NA ESCURIDÃO

 

Se tornar um pirilampo no breu,

Reconecta o homem com a luz,

Faz de si um humilde Prometeu,

Que se imola com águia ou cruz.

 

Lá em Roma com a cruz se punia,

Todo pobre que afrontava o poder,

Seja por roubo ou por heresias,

Cujo sangue eu vi escorrer.

 

Já os ricos tinham o gládio,

Que usavam para lavar a honra,

Sem querer se ver num estádio,

Como cena de circo sem lona.

 

Os pobres se viam digladiando,

E os ricos vivendo morbidamente,

Com uns sofrendo ano após ano,

E os outros bebendo somente.

 

Em farras de Baco eles morriam,

Sem ir à guerra, mas na loucura,

Com as taças de cobre sorriam,

Enquanto não tinham mais cura.

 

A humanidade teima na procura,

Da taça que lhes façam imortais,

Sem saber seu preço na praça,

Mas o leilão não finda jamais.

 

O que se compra de nada serve,

Pois o valor é do que se merece,

Que talvez a conquista reserve,

A ilusão de pedir com a prece.

 

Nunca saberemos qual a verdade,

Se tudo se acaba na escuridão,

Onde buscamos nossa sanidade,

Ou seja, a saudade como razão.